Mergulho no Bairro da Liberdade




Numa quinta visita ao Bairro da Liberdade, decidimos percorrer o bairro todo. Decifrar todos os cantos e recantos ainda não explorados por nós. À medida que deambulávamos pelo bairro, filmámos os locais por onde passávamos, de forma a que os filmes fossem testemunhos do ambiente vivido no bairro (conversas, pontos de encontro entre bairristas, pontos de referência entre outro) e de todo o percurso que fizemos.


"Isto tem imensos cafés! Não tinha noção!"

A qualquer esquina que virássemos havia um café. Quase sempre com clientes ou pessoas que simplesmente se juntavam lá a conversar. Um entra e sai de pessoas. "Boa tarde! Como vai?" era talvez o que mais se ouvia.

Entrámos pela primeiras vez no Café da Rosa. Compramos chocolates e sentámo-nos à conversa. 
Decidimos perguntar ao senhor do café como se realmente escrevia o nome do bairro vizinho ao Bairro da Liberdade, ao que ele respondeu "Escreve-se Serafina! Tenho a certeza, já cá vivo há muitos anos!".

Por ainda termos algumas dúvidas, perguntámos também onde começava o Bairro da Liberdade: "Então, onde há vivendas é Serafina, o resto é Liberdade. Portanto da rua de cima até lá abaixo.", disse-nos.

"Isto por causa de uma aposta que fizemos… consegue dizer quantos arcos tem o Aqueduto?"
"Não sei. Nunca contei…"

Na rua da frente, descobrimos outro café. O Sporting Clube da Liberdade, que dá nome a mais um clube de futebol do bairro, para além do Atlético Clube da Liberdade (já conhecido por nós).

Uma garagem chamou-nos a atenção. Lá dentro estava um senhor, acompanhado de milhares de recordações, "relíquias" e imensas coisas que "já ninguém usa". Perguntámos-lhe de onde vinha tanta coisa, ele respondeu que recolhia pelas ruas, às vezes as pessoas dávam-lhe, e ele arranjava-as e depois vendi-as. Aquela garagem é um mundo! Mal se via a parede do fundo! Tanta coisa que nem sabíamos por onde começar a olhar.

É impossível não referir a rua azul, que tanto nos chamou à atenção. Nem parecia pertencer ao bairro. Entrámos nela e sentimo-nos noutro sítio. Azul, branco. E alguns azulejos com galos barcelos ou Santo António. Essa rua levou-nos ao segundo sítio mais interessante que vimos nesse dia. Entrámos por um pórtico "todo arranjinho" e pintado com as cores da bandeira de Portugal, a dizer "VILA". Fomos dar não só a um atalho para descer o monte todo de forma mais rápida mas também a uma horta onde estava um senhor muito empenhado a trabalhar e com o qual ficámos a falar durante uns minutos. Aquela zona não tinha prédio nem casas construídos a tapar a vista, pelo que se tornou para nós numa das zonas com melhor paisagem do bairro, sobre Campolide, o Aqueduto e a Ponte 25 de Abril.

Ao caminhar pelo bairro apercebemo-nos que para além do conjunto de casas degradadas, o bairro tem também dentro dele três zonas de habitação social distintas. O bairro é muito maior do que o que pensávamos e tem ainda muito por descobrir. Por vezes entrámos por corredores que não sabiamos se eram ruas estreitas ou se já faziam parte dos quintais das pessoas. Vimos portas de casa sem fechadura, apenas trancadas com um cadeado. Vimos cães e canários. Mais uma vez repáramos nos números das portas das casas pintados com tinta e nas paredes lascadas. 

Descer os 160 degraus das Escadinhas da Liberdade e descobrir que o Arquivo Municipal de Lisboa ainda faz parte do nosso bairro, marcou o final da nossa visita.

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