ACT #05: Potlatch
Fomos ao bairro em busca de
coisas que o caracterizassem, memórias nossas, objectos que nos fizessem
recordar o Bairro da Liberdade, e que nos marcaram, desde a primeira
visita. Em geral, o critério utilizado na escolha
desses artefactos foi o de dar a conhecer o bairro através de um objeto com um
significado em particular. É pela disparidade de presentes e pela necessidade
de justificarmos as nossas escolhas, que atámos uma etiqueta com uma mensagem,
escrita à mão, tal como o número de muitas portas do nosso bairro.
Vemos estes presentes como uma caracterização
física, mas também simbólica do bairro. Desde a água da fonte que conservámos
num frasco, que remete para falta de água canalizada no bairro (um problema
bastante evidente e que ocupa um papel muito importante nos aspectos mais
preocupantes), levando as pessoas a terem que se deslocar até às fontes, várias
vezes por dia, para que possam ter água em casa para cozinhar, fazer a sua
higiene ou simplesmente beber água; aos pincéis sujos que representam o hábito
bairrista, tão particular da Liberdade, de identificar o número das portas com
tinta, e cada uma ao gosto dos moradores; a trincha, que remete para a
"Travessa A", por nós chamada de "Rua Azul", pintada pelo
senhor José João e que revela dedicação e fieldade que ainda se faz notar
naquele bairro e que realça a vida que existe naquela rua, principalmente pela
sua cor; o bilhete do autocarro 702, como um convite para visitar o bairro
(achamos que é um local merecedor de atenções); o recibo do café
"Aqueduto", como um testemunho do que são os nossos hábitos quando
visitamos bairro, que diz "Obrigado pela visita - Volte sempre";
terra da horta do Senhor Ramilho, com quem tanto falamos quando vamos ao
bairro, que todos os dias cuida do seu passatempo e vê o seu esforço
e paciência dar frutos; um tijolo partido e parte de um monitor de
computador, símbolos da degradação e sujidade do bairro; as flores artificiais
que tal como a etiqueta do objecto remete-nos para o reflexo do bairro: sujo e
velho mas ainda assim com as suas qualidades idiossincráticas; e, por
último, mas não menos importante, um azulejo partido, mais um azulejo entre
tantos que se vêm espalhados em algumas paredes das casas, isolados, sozinhos,
mas que dão cor e vida ao bairro. Estes foram os nossos
presentes para os outros.
Os presentes que, aos nossos olhos, dão a conhecer o Bairro da Liberdade.
Os presentes que, aos nossos olhos, dão a conhecer o Bairro da Liberdade.
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