Texto #0.1 | Bairro

Repensámos. Após refletir e discutir acerca do assunto, percebemos que o Bairro da Liberdade carrega consigo uma história marcante, relativamente às habitações sociais e à forma como o Conselho de Lisboa resolveu os seus problemas de alojamento deste bairro. Em função de um novo acesso rodoviário, o EIXO Norte-Sul, parte do bairro foi destruído e as pessoas foram realojadas noutros bairros, juntamente com outras comunidades. Finalmente, passados oito anos, uma parte da povoação original do Bairro da Liberdade regressou à origem na esperança de encontrar o ambiente bairrista de que se recordava. Acontece que, apesar dos antigos habitantes terem sido realojados lá, novas pessoas de origens e hábitos diferentes também o foram, o que desencadeou contraste social e, posteriormente, algum conflito entre esses dois “grupos”.

Com a população reduzida e envelhecida, também os serviços públicos e conveniências foram cortados e reduzidos ao mínimo. Primeiramente, as múltiplas mercearias e em seguida os transportes públicos. Por último, o fecho de uma das duas farmácias que existiam, sendo que aúnica que está aberta atualmente se situa no topo das várias subidas, ou seja, num local muito elevado, representando uma impossibilidade para a população idosa, por ser de difícil acesso.

Em contraponto, são talvez estas dificuldades que fazem com que se notem os pequenos gestos de espírito de bairro. A título exemplificativo, aqueles que, pelos idosos não conseguirem ir a farmácia, lhes fazem o favor de comprar os medicamentos que necessitam, nos beijinhos trocados entre vizinhos no café e até mesmo no entusiasmo pelo clube de futebol do bairro.

Em suma, apesar de inicialmente termos ficado com a ideia de que o Bairro da Liberdade não passava de um bairro degradado, neste momento a opinião não é a mesma. Percebemos que exatamente por ser um bairro em pior estado, devido a tudo aquilo por que já passou, o torna mais interessante. Ficámos inquietos com as histórias que nos foram contadas e foi apenas o primeiro dia. Por isso, sabemos que há muito mais a descobrir. Esse incómodo que sentimos por dentro dá-nos, agora, vontade de lá voltar e desvendar as histórias e vivências que já se passaram com as pessoas que vivem naquele lugar tão individual e com características próprias. Percebemos que não é possível fazer apenas uma intervenção a nível social – aliás, não é só esse o objetivo – mas que temos de procurar intervir de forma artística e cultural, enquanto designers, artistas mas também cidadãos que somos, para que o nosso projecto se reflita no bairro de forma positiva. Esse é o verdadeiro desafio.

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