Museu da Carris | Tipografia


A terceira e última parte do Museu da Carris é uma autêntica oficina de tipografia, uma fantástica colecção de máquinas e instrumentos tipográficos bastante inesperada. Os vários caixotins estavam recheados de tipos em metal e em madeira. Várias fontes tipográficas, corpos e letra e até mesmo os logótipos de Carris e Câmara Municipal de Lisboa. Naquela sala é possível ver a evolução dos tipos usados pela Carris ao longo dos tempos, bem como exemplos de bilhetes no quais eles foram usados. Infelizmente, estava tudo protegido com acrílico, apesar da grande vontade que tinha de tocar e experimentar tudo.

Actualmente, o tipo de letra utilizado pela Carris é a Futura, desenhada por Paul Renner em 1927. Foi escolhida por ser simples, legível e, segundo a marca, "amigável". É então utilizada em todos os tipos de comunicação e não deve ser substítuida por qualquer outro tipo de letra, no entanto pode ser usada com diferentes cores e tamanhos. A Futura complementa também os dois círculos do logótipo da Carris, que se mantiveram desde o logótipo antigo, que se pode ver acima.


Museu da Carris | Transportes


Na passada quarta-feira fui ao Museu da Carris, onde tinha ido com cerca de 8 anos e basicamente só me lembrava de ter entrado num autocarro antigo. Desta vez vi tudo com outros olhos. No primeiro edíficio do museu, que equivale à primeira parte, é festa uma introdução há história da Carris, onde mostram fotografias, mapas e pequenos objectos como os sinos que havia na parte da frente dos transportes. A fotografia que mais dispertou curiosidade em mim foi uma fotografia da entrada de uma estação de metro há uns anos por ser igual às entradas das estações em Paris, apesar da placa a dizer "Metropolitano" estar traduzida para português. A fonte tipográfica usada foi criada por Hector Guimard em 1901 e, segundo o que pesquisei, a estação na fotografia é a estação de Picoas e é uma réplica oferecida a Lisboa pela Câmara Municipal de Paris. Fomos para o segundo edíficio de eléctrico, uma viagem de cerca de 1 minuto, mas muito interessante e diferente por ter sido feita num eléctrico antigo, no qual não se anda todos os dias. A segunda parte é como uma garagem onde guardam dezenas de autocarros e eléctricos. O que mais me chamou à atenção foi a forma como os números dos elétricos estavam indicados e os grandes autocarros verdes, de dois pisos, totalmente diferentes dos de hoje em dia. Ver dos primeiros autocarros turísticos também foi muito surpreendente, principalmente pela tecnologia de que já estavam equipados, bem como a evolução dos postos de venda de bilhetes. 


Conversa #5 | Sr. António e D. Adriana


Da garagem para o quintal do Sr. António e da D. Adriana! Precisavam de ajuda a carregar o escadote desde a garagem e nós, obviamente, ajudámos. Não só a carregar o escadote, mas também a cortar os ramos do abacateiro e depois a colher alguns dos abacates. Foi muito bom falar com eles. Perguntaram-nos onde estudávamos, onde viviamos. Contaram-nos que gostavam muito de viver ali no Bairro da Liberdade - Rua de São Jacob nº. 216 - e que apesar de já terem vivido noutros sítios, acabaram por regressar ao bairro. Falaram das filhas e dos netos, de fruta e de receitas para fazer com abacate. Falaram-nos do seu amor já de 56 anos! Tirámos uma fotografia com eles e fizeram questão que um dia destes voltássemos lá para lhes dar a fotografia. Para além de termos saído de lá totalmente "preenchidos", ainda nos ofereceram uns abacates, que disseram para colocarmos na fruteira e comermos apenas quando estivessem mais maduros. "Foi uma benção terem vindo cá", disse o Sr. António; "Podiam ser meus netos", disse a D. Adriana.


Conversa #4 | Senhor da Garagem


Mais uma vista ao Senhor... Armindo? Manel? Não conseguimos saber o nome dele. Já ouvimos vários nomes e acreditamos que é Senhor Armindo mas ele diz que tem vergonha de dizer o seu nome de nascença porque gozavam com ele na escola. E não diz nem por nada! Por isso, por enquanto, é o "Senhor da Garagem". Falou-nos mais um pouco das coisas que reconstrói e vende e até mesmo de trabalhos que lhe pedem que faça por saberem que gosta tanto de bricolage. Disse-nos que a profundidade da garagem equivale a profundidade do próprio edíficio e perguntámos como conseguia chegar a tudo, mesmo o que estava mais para trás, ao que responder que "o segredo é a alma do negócio". Afirma ser uma pessoa muito ocupada, cheia de compromissos e que gosta de fazer os seus trabalhos e entregá-los quando combinou. Não gosta muito de ser filmado mas adora falar. Fala muito, com toda a gente que passa.



Entretanto, a meio da nossa conversa, apareceu o Senhor António que foi pedir um escadote emprestado para apanhar os seus abacates. E foi este senhor que nos levou à segunda parte desta nossa visita... 


Mapa Psicogeográfico | Estudos #1

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Olhámos para o bairro e olhámos para nós. 

Começámos por rever as nossas visitas, aquilo que as marcou - e nos marcou - e começámos por tentar perceber o que é que, para nós, a essência do bairro, o que é que o torna único, diferente de todos os outros que já conhecíamos, mesmo que aparentemente revelassem semelhanças. Através dos vários pontos de referência no bairro da liberdade (escuteiros, igreja, cafés, aqueduto, entre outros), que foram surgindo ao longo do nosso reconhecimento e das nossas visitas, delimitámos a área do bairro que nos interessava, definimos trajectos, criámos relações sociais e interligações entre os pontos de interesse e procurámos entender o que é que cada um desses pontos, e o que poderia vir associado a eles (pessoas, ambiente), nos transmitia, que lugar tinha nas nossas experiências e no bairro. Começámos a esboçar o nosso mapa psicogeográfico.

No primeiro esboço podem ver-se traços simplificados do mapa local e claramente alguns destaques. Após uma seleção, através do desenho, foram-se retirando as ruas e cada vez mais se foi alargando o conceito de mapa geográfico, em detrimento do crescente simbolismo associado a cada elemento exposto. Reviver algumas experiências como raio de influência de cada ponto, ou utilizar um registo cronológico das visitas ao bairro, levou-nos a duas vertentes críticas: ou um mapa que apontaria o que um visitante viria ao visitar o bairro, tal como nós nas primeiras visitas vimos, ou uma associação de ideias entre os pontos de interesse do nosso grupo.

Foram muitas as tentativas de tentar conciliar aquilo que para nós era importante, com o que achávamos que poderia ser interessante para quem lá fosse e com o que de certa forma também reclama o seu lugar e peso no bairro. 

A garagem do senhor Manuel é uma autêntica cidade de memórias do bairro. Quase infinita (para nós), esconde objectos que contam histórias e que também são sítios e pessoas. E se nós fossemos a garagem? Que memórias guardaríamos do bairro? 

Tal como a garagem do senhor Manuel é um repositório de fragmentos do bairro, nós, a nossa “garagem”, vai recolher e “sugar” referências, características e elementos que identificam de alguma forma aquele bairro. Assim, a vertente de associações de ideias, que construímos do bairro, toma vida ao personificar o “Senhor da Garagem” e o seu ofício (no mapa como “Venda de Garagem”). 

Nesta garagem, os objetos recolhidos no Bairro da Liberdade estão dispostos em função de uma lógica somente conhecida pelo seu dono. Por isso, para terceiros é apenas uma enorme confusão de artefactos das ruas do bairro. Os estudos da “Venda de Garagem” com setas castanhas representam essa mesma confusão. 

Através de elementos tipográficos representativos dos pontos de interesse criámos também a GARAGEM, que como foi dito anteriormente "absorve" as letras, das palavras dos pontos de interesse, que a compõem. 

Em baixo seguem-se os estudos realizados.


Mapa Psicogeográfico | O que é?


Após a grande absorção de informação sobre o Bairro da Liberdade que temos feito ao longo do semestre, foi-nos pedida a realização de um mapa psicogeográfico. Achámos importante, primeiro que tudo, tentar entender realmente o que é o mapa psicogeográfico e que de forma esse se reflecte no projecto sobre o bairro.
Este mapa tal como a palavra “psico” (de psicologia) sugere, consiste no estudo do ambiente geográfico assente no papel das emoções, comportamentos e relações que os habitantes da zona estabelecem entre si, connosco, mas principalmente as que nós estabelecemos com o Bairro. A sua realização pode ou não elucidar sobre a geografia exacta das zonas, edifícios, monumentos ou ruas, mas o mais importante é mesmo conseguirmos transmitir aquilo, que para nós é relevante.
Muitas vezes, este tipo de mapas, é apresentado como “guia de cidades”, onde o resultado da reflexão e relação com os aspectos característicos (ou não) desse local são referenciais, levando à eventual experiência no mesmo meio.
No nosso caso, como estudantes de designers de comunicação, este mapa tem como objectivo transmitir, de forma clara, criativa e expressiva, todos os aspectos que considerámos relevantes e importantes, pela sua força emocional e sensitiva, durante a interactividade com o Bairro.
De entre os exemplos que pesquisámos, realçamos o “The Naked City”, de Guy Debord, que integra as construções e produções artísticas de Paris, feito a partir de fragmentos de um mapa cartográfico.


Sinopse | A Garagem


Uma garagem, um retrato do bairro. Uma colecção de objectos perdidos, fruto da árdua e contínua recolha que ocupa o dia-a-dia do dono de uma garagem do Bairro da Liberdade. Com alguma idade, este senhor reconstrói ou simplesmente aproveita o que encontra para criar novos utensílios, fornecendo-lhes uma nova vida.

Quando se passa pela garagem, fechada, nem se repara. São apenas mais uns portões azuis, iguais aos restantes espalhados pelas ruas. Quando se abrem, ouve-se de imediato o som da rádio que nos encaminha automaticamente para lá ou, pelo menos, faz-nos olhar. “É a sua garagem? É tudo seu?”, foram as primeiras perguntas que fizemos ao senhor Armindo, que de forma tão entretida escolhia um dos milhares de objectos para trabalhar naquele dia. Parece uma sucata. Dentro de uma só garagem, que pertence a uma só pessoa. É inevitável não sentir vontade de entrar, ver cada objecto e ver até onde vai, quando acaba; visto que os objectos amontados vão até ao tecto, sem se perceber a profundidade da garagem.

Cada objecto, uma história, um sítio, uma pessoa. Naquele espaço há um mundo inteiro a descobrir. Leva-nos a viajar até às origens do bairro. A recuperar as propriedades intelectuais de cada objecto, tal como o senhor Armindo também o faz, mas sem se aperceber. Palavras, sons, cheiros, cores, formas e texturas. À primeira vista, é um repositório desorganizado mas, na verdade, trata-se do arquivo deste respigador, onde guarda a história do bairro. Uma autêntica metáfora do Bairro da Liberdade: cada coisa remete-nos para o seu passado, o seu estado actual e, quem sabe, um futuro melhor, reaproveitado e reconstruído, tal como as milhares de peças daquela garagem.

Uma aproximação à vida do senhor Armindo, da sua garagem e do que o rodeia. Entender o porquê da sua colecção, da sua necessidade de dar vida a algo que aparentemente é lixo, a coisas que são memórias e histórias dos outros que já não são procuradas, e da forma como examina cuidadosamente cada objecto. Uma análise da garagem, enquanto objecto singular constituído por vários fragmentos do bairro.

Museu das Comunicações | Exposição


No âmbito da cadeira de História e Crítica do Design, eu e o David Santos fomos conhecer e explorar o Museu das Comunicações. Este museu engloba a história da evolução do mundo das comunicações, desde o primeiro computador e telemóvel, aos mais recentes, desde a primeira câmara fotográfica e de filmar às câmaras digitais da actualidade, retratando também a história dos Correios. É um museu muito interessante, que recomendo a toda a gente, porém, tive muita pena de não ter feito uma visita guiada. Aliás, eu e o David éramos os únicos no museu e fomos nós quem fez com que se ligassem as luzes automáticas das salas da exposição. É um museu com uma colecção bastante ampla, com objectos que dificilmente veremos noutros locais.

Tal como o Professor Frederico Duarte nos tinha dito, houve uma mudança no logótipo dos Correios que, apesar de aparentemente parecer simples e insignificante, tirou todo o sentido áquele que era o logótipo original, pois o homem com capa a segurar uma carta em cima de um cavalo, passa a ser uma figura quase mitológica que nem uma carta segura - facto que verificámos no museu.

Outros  objectos que também me chamaram à atenção foram o antigo portátil da Apple, cujo design me fez lembrar os Magalhães, e um cartaz de Cunha Barros, que, segundo o que nos disseram, foi um cartaz feito em Inglaterra, no qual apenas se traduziram as frases, mas, estranhamente, o autor aparece como sendo português.

Os objectos que mais achámos interessantes curiosamente o público não tem acesso, pois fazem parte do arquivo da biblioteca do museu. Brevemente falarei deles.


Potlatch | A cerimónia


ACT #05: Potlatch


Potlatch, uma partilha de pequenos objetos simbólicos entre grupos. Estes objetos reencaminham-nos para cada bairro estudado, para a vivência pessoal destes sítios, de modo a transmitir os sentimentos de cada um. Os objetos foram escolhidos perante o critério de cada grupo, artefactos de preferência que simbolizassem pequenos aspetos, histórias e experiências do bairro. Uma cerimónia da qual não nos esqueceremos. Foi muito interessante partilhar com os outros grupo aquilo que estamos a trabalhar há mais de um mês. Penso que foi com muita satisfação que todos os grupos trocaram entre si aquilo que é o seu bairro, aquilo que faz parte dele e o caracteriza como um bairro individual e diferente de todos os outros. "Não é um bairro qualquer."



Potlatch | Os presentes dos outros bairros


ACT #05: Potlatch

À semelhança da nossa procura dos objectos que caracterizássem e que simbolicamente representássem o que é o nosso bairro, tanto para nós como para quem lá vive, os outros grupos também o fizeram. Lâmpadas, cartões de vista, postais, flores, pasta de dentes, entre muitos outros. 14 presentes que se diferenciaram muito entre si e cada um com a sua própria história e significado.


Potlatch | Do Bairro da Liberdade para os outros bairros


ACT #05: Potlatch


Fomos ao bairro em busca de coisas que o caracterizassem, memórias nossas, objectos que nos fizessem recordar o Bairro da Liberdade, e que nos marcaram, desde a primeira visita. Em geral, o critério utilizado na escolha desses artefactos foi o de dar a conhecer o bairro através de um objeto com um significado em particular. É pela disparidade de presentes e pela necessidade de justificarmos as nossas escolhas, que atámos uma etiqueta com uma mensagem, escrita à mão, tal como o número de muitas portas do nosso bairro.

Vemos estes presentes como uma caracterização física, mas também simbólica do bairro. Desde a água da fonte que conservámos num frasco, que remete para falta de água canalizada no bairro (um problema bastante evidente e que ocupa um papel muito importante nos aspectos mais preocupantes), levando as pessoas a terem que se deslocar até às fontes, várias vezes por dia, para que possam ter água em casa para cozinhar, fazer a sua higiene ou simplesmente beber água; aos pincéis sujos que representam o hábito bairrista, tão particular da Liberdade, de identificar o número das portas com tinta, e cada uma ao gosto dos moradores; a trincha, que remete para a "Travessa A", por nós chamada de "Rua Azul", pintada pelo senhor José João e que revela dedicação e fieldade que ainda se faz notar naquele bairro e que realça a vida que existe naquela rua, principalmente pela sua cor; o bilhete do autocarro 702, como um convite para visitar o bairro (achamos que é um local merecedor de atenções); o recibo do café "Aqueduto", como um testemunho do que são os nossos hábitos quando visitamos bairro, que diz "Obrigado pela visita - Volte sempre"; terra da horta do Senhor Ramilho, com quem tanto falamos quando vamos ao bairro, que todos os dias cuida do seu passatempo e vê o seu esforço e paciência dar frutos; um tijolo partido e parte de um monitor de computador, símbolos da degradação e sujidade do bairro; as flores artificiais que tal como a etiqueta do objecto remete-nos para o reflexo do bairro: sujo e velho mas ainda assim com as suas qualidades idiossincráticas;  e, por último, mas não menos importante, um azulejo partido, mais um azulejo entre tantos que se vêm espalhados em algumas paredes das casas, isolados, sozinhos, mas que dão cor e vida ao bairro. Estes foram os nossos presentes para os outros.

Os presentes que, aos nossos olhos, dão a conhecer o Bairro da Liberdade.


Les Glaneurs et la Glaneuse


ACT #06: Os Respigadores e a Respigadora


Les Glaneurs et la Glaneuse da cineasta belga Agnès Varda é um estudo sobre a vida francesa, num aspecto particular. A realizadora investiga o porquê da preocupação dos respigadores em recuperar objectos inutilizados (muito diferente de "inúteis"). Parte das primeiras respigadoras, aquelas que procuravam espigas deixadas pelas máquinas agrícolas nos campos já ceifados, de forma a evitar o desperdício, actividade esta que foi retratada por pintores como Jean François Millet (como se pode ver na imagem), para chegar ao estudo intimista dos respigadores do ínicio do século XXI.

Ao longo do filme e do percurso longo de Agnes, que se percebe pelas várias viagens que faz de carro, ela conhece pessoas que reutilizam coisas que à partida são vistas como lixo, seja por necessidade de aproveitarem esses objectos, seja por gosto ou até mesmo pelo valor moral. Desde comida que já passou o prazo de validade, a produtos agrícolas que não são suficientemente “bonitos” para se vender, a objectos decorativos, bijuteria, entre muitos outros.

Em primeiro lugar, e tocando neste que é o tema central do documentário, acabei por concluir que o desperdício é algo que já se tornou tão comum que se atravessa à nossa frente todos os dias sem repararmos. Seja uma folha de papel que deitamos ao lixo porque imprimimos algo mal, a água que fica a correr enquanto lavamos os dentes, a comida que sobra nos restaurantes ou até mesmo no nosso prato porque tivemos "mais olhos que barriga" e ficámos cheios… Felizmente, começam a surgir respigadores que recolhem aquilo que parece ser “lixo” para ajudar outras pessoas. Um exemplo é a ReFood, uma associação que visa combater o desperdício de comida dos estabelecimentos de venda de produtos alimentares para dar a sem-abrigos e famílias necessitadas. Outro exemplo são as pastelarias que têm dado os seus restos para nós, alunos da Faculdade de Belas Artes, podermos comer mais qualquer coisa sem gastar dinheiro. E posso referir também as inúmeras feiras e lojas de produtos em segunda mão que se fazem todas as semanas.

Por outro lado, este filme remeteu-me para um senhor que eu e o meu grupo conhecemos no Bairro da Liberdade. O Senhor Manel recolhia objectos das outras pessoas para os arranjar. A garagem dele parecia o caos, um autêntico caixote do lixo, mas para ele todos os objectos podiam ser reaproveitados. Ainda no bairro, conhecemos outro senhor que tinha uma oficina e restaurava objectos. Mostrou-nos um carrinho de mão, que após recuperado, parecia acabado de comprar, e um triciclo com dois bancos que, segundo disse, fez para ir buscar os filhos à escola. Lembrei-me também do sofá que tenho no meu quarto, que eu e a minha mãe encontrámos no lixo e bastou limpá-lo, remover o tecido e estofá-lo de novo para ficar impecável!

Este documentário fez-me reflectir em relação à quantidade de coisas que compramos quase todos os dias e que duram por vezes muito pouco tempo. Ou porque deixamos de gostar, ou porque deixa de funcionar, ou porque já não serve. Tudo devido à velocidade a que o mundo anda actualmente, às influências, tendências e modas. Que valor têm as coisas? - pergunto eu. Os respigadores são combatentes nesta luta mas, infelizmente, não são os que estão em maioria.

A própria Agnès é uma respigadora que, ao pegar pela primeira numa câmara digital - tornando o seu filme meramente amador -, recupera as respigadoras representadas por Millet, registando os respigadores de 2000. A forma como a cineasta faz o retrato de França fez-me pensar no mergulho que demos no bairro e na forma despreocupada com que andámos a falar com as pessoas e até as filmagens que fizémos com o telemóvel no autocarro 702 a caminho do bairro.

Para concluir, este filme, para além de pertinente e oportuno, foi muito introspectivo. Deviamos todos ser menos consumidores e mais respigadores. Já que é inevitável que haja consumo, há que evitar ao máximo o desperdício. Este documentário levou-me a questionar qual o nosso papel enquanto artistas e designers na reaproveitação, renovação e reutilização daquilo que aparentemente é lixo.


Agnès Varda com a sua câmara digital

Respigadores do Bairro da Liberdade

O antigamente, hoje


No seguimento da pesquisa que fizemos da história do bairro e de algumas fotografias antigas, que se pode ver/ler em posts anteriores, decidimos fazer uma comparação do presente com o passado e aprofundar aspectos daquilo que marca ou marcou a vivência deste bairro. A fonte ao cimo das Escadinhas da Liberdade mantêm-se igual. Esta, continua a ter exactamente a mesma utilidade, visto que grande parte dos habitantes continuam a viver numa realidade em que não existe água canalizada. As escadas, apesar de visualmente estarem iguais, não têm a mesma utilidade. Devido aos acessos feitos por transportes, e até mesmo a outros atalhos pedonais existentes, é rara a hora em que se vê pessoas a subir as escadas. Aliás, as únicas pessoas que estão na fotografias somos nós. Outrora, ali se cruzaram conversas, inventaram-se brincadeiras e marcaram-se encontros. Por outro lado, à direita das escadas praticamente não havia casas e agora existem prédios.