The Belly of an Arquitect


As Cólicas de um Arquitecto


Mais uma vez, um filme de Peter Greenaway ao qual é impossível ficar indiferente. O protagonista deste filme é Kracklite, um arquitecto que estava a organizar uma exposição para o seu ídolo, o francês Etienne-Louis Boullée, um visionário arquitecto neoclássico. Descola-se então até Itália com a sua mulher. O ponto principal deste filme é o delírio e obsessão de Kracklite que se desenvolvem ao longo do tempo por vários motivos. Primeiramente, a sua mulher que se envolve com um dos organizadores da exposição; e, em segundo lugar, o facto de todos lhe apontarem o seu excesso de peso,o que o leva a fazer uma dieta à base de fruta. É essa dieta que leva ao terceiro motivo do seu delírio: as constantes dores de barriga por comer figos (apesar dele não saber que esse era o motivo das suas cólicas). Estas dores levam-no a desconfiar que a sua esposa o estava a envenenar e desperta a sua obsessão por barrigas.

É interessante ver a relação que a sua paranóia tem com as artes, nomeadamente a arquitectura, o desenho, a escultura e a fotografia. Kracklite ao tentar perceber o que se passava investigou todo o tipo de barrigas: desde as mais atléticas das estátuas da antiguidade clássica às barrigas mais gordas e passando até pela barriga de grávida da sua mulher – este interesse pela cultura antiguidade clássica mostra também o lado neoclássico do arquitecto. A importância dada à fotografia está presente no roubo dos postais de Roma, no momento em que a irmã de Caspasian o fotografa e nas inúmeras fotografias de diferentes barrigas que imprimiu compulsivamente e espalhou no chão. É com este cenário das fotografias dispersas em seu redor que observamos, metaforicamente, a decadência do arquitecto: ao passar da cadeira para a cama e da cama para o chão.

Este filme assemelha-se de certa forma ao anterior - The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover” - na medida em que há temas que são de novo abordados, como o adultério de determinadas personagens e os pecados mortais do Homem, e até mesmo na forma como o filme foi realizado. O vermelho que muitas vezes predomina - símbolo do amor mas ao mesmo tempo da tormenta e do martírio - e a separação feita entre os sexos são características em comum com o outro filme, bem como alguns planos que se assemelham a naturezas mortas (nomeadamente algumas de Luis Egidio Melendez) e o banquete que inicia o filme. A flagelação de Cristo, de Piero Della Francesca, serviu, sem dúvida, de inspiração para filmar cenas de determinadas perspectivas bem como para as cores presentes (exemplo: indumentárias utilizadas pelo arquitecto).

A banda sonoro adequa-se perfeitamente a toda a história, sendo toda ela um trabalho do compositor Wim Mertens, e é ela também que nos faz antecipar de certa forma o final trágico.

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