É inevitável não falar do assunto
que mais se tem falado (e desenhado) nas últimas 24 horas. Enquanto estudante
de artes, futura designer, cidadã e humana que sou, vi-me obrigada a reflectir
sobre o que aconteceu. Neste momento estamos na Fase 3 do projecto “O Sabor da
Laranja”, na qual tenho de fazer uma introspecção e pensar no que para mim é a
liberdade artística. E este momento não se podia adequar mais a esta reflexão.
Ontem, dia 7 de Janeiro de 2014, houve
um atentado contra um jornal satírico em Paris – Charlie Hebdo –, do qual
resultaram 12 mortes. O motivo deste autêntico “massacre” – segundo os
terroristas, porque na realidade nada justifica o que aconteceu – foi uns
cartoons que, criticavam a forma como alguns homens, tão obcecados pela religião, cometem atrocidades. Ou seja, a crítica era mais propriamente direcionada a esses homens e não ao Deus em que acreditam. No entanto, esses homens não foram suficientemente Homens para entenderem isso e acharam inadmissível uma crítica ao Deus deles.
Estamos no século XXI e a
liberdade de expressão é um direito, apesar de não ser assim em todos os
países. França, tal como Portugal, é um país em que toda a gente pode expor a
sua opinião. Estes cartoonistas não fizeram mais nada senão isso e, por isso
mesmo, cartoonistas e artistas do mundo inteiro estão unidos nesta luta de
defesa da liberdade artística e de expressão, da autonomia de pensamento e
participação livre na sociedade.
É perturbante pensar que 12
pessoas morreram desta forma. Morreram em nome da Arte. Uma arte tão particular
que era a delas: criticar com humor, fazer as pessoas rir em relação a algo que
não tem graça. Parece que provocaram a própria morte… Mas não. Foram apenas
artistas. E um grupo de homens que acredita num suposto Deus mataram estes
artistas para defender uma suposta religião. E religião é matar? Desenhar é ser
morto? Há tantas perguntas que me passam pela cabeça neste momento que dentro
de mim a definição de liberdade ainda mais confusa se tornou. É por tudo isto
que manifesto a minha tristeza e indignação, por existirem pessoas tão desumanas. E condeno totalmente este sangrento acontecimento.
Sinto que sou livre de me
expressar – caso contrário não o estaria a fazer neste momento – e defendo que
toda a gente o é. Mostrar o que sentimos através de um desenho, uma fotografia,
um texto ou outra forma de arte e tocarmos os outros é algo que não só deve
como TEM de ser um direito para cada pessoa. Tenho muita pena que alguns
interpretem a Arte da pior forma possível, acabando com vidas da mesma forma que
um artista amachuca um papel para fazer um novo desenho.
Pelos artistas, Je suis Charlie.
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