A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os
libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial
libertação. _Fernando Pessoa
Ainda tenho um longo caminho a percorrer até conseguir
chegar a uma definição de arte ou de liberdade ou de liberdade artística. Por
esta razão, socorro-me daqueles que, após sucessivas reflexões chegaram às suas
conclusões sobre estes temas que, por sua vez, me ajudarão neste processo de descoberta.
É em “Desassossego” que Fernando Pessoa, poeta e pensador, expõe a sua
definição de arte, que pode ser um bom guião para a minha reflexão.
O que é que eu sinto? As palavras que vêm ao de cima na minha cabeça quando
leio a primeira parte da frase são: processo, evolução, descoberta.
Um caminho que no fim chegará a algo bom e que percorro ansiosamente e passa
tão rápido. É isso que eu sinto. E é isso que quero que os outros sintam
também.
Um corredor de 28 metros, 100 rectângulos pretos de 10 por 15cm, uma frase,
um morango e uma bicicleta.
O observador subirá para a bicicleta para ver a sequência de forma rápida,
tal como eu sinto que o tempo está a passar. E porque o tempo depende, de certa
forma, de nós, eu vou controlar o tempo que vão demorar a ver a experiência
cinética que proponho ao observador.
O primeiro rectângulo preto vai provocar perguntas em quem o vir – Porquê
um rectângulo preto? O que vem a seguir? – exactamente o mesmo que senti no
inicio do semestre e, por vezes, continuo a sentir. A bicicleta começa a andar,
movida pela pessoa - Mas vão ser sempre só rectângulos pretos? - e a pessoa
continuará para descobrir o que vem a seguir. Após uma
sequência de cerca de 75 rectângulos pretos, começa a surgir, por detrás do
rectângulo, ao longe, um ponto vermelho, muito pequeno – Finalmente alguma
coisa! – que aumentará até ao último rectângulo preto até ter a forma e tamanho
de um morango. Após o centésimo rectângulo haverá uma prateleira com um morango
verdadeiro e, por cima, a frase.
E porquê o morango? O morango é uma fruta que, apesar de se desenvolver
numa planta rasteira e de pequeno porte, torna-se num dos frutos mais doces e
saborosos do mundo.
Depois de todo o caminho percorrido com ânsia, grande
parte às escuras, sem saber o que vinha a seguir, começou a surgir algo e, no
fim, descobre-se que é algo bom, saboroso, viciante e que
se quer mais. E, o que antes era uma idealização ou resultado da imaginação,
finalmente torna-se real.
A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os
libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial
libertação. _Fernando Pessoa
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