A Ilha Nua
Foi a
primeira vez que vi um filme mudo completo. Para além de mudo, uma
característica constante foi a ausência de cor. De forma calma, é-nos apresentada
a vida rural da única família que habita a ilha isolada do Japão onde decorre o
filme - desde à pesca do peixe à recolha da água para beberem e ao cultivo dos
alimentos para sobreviverem.
Kaneto Shindo decidiu repetir várias vezes a mesma cena, para enfatizar o esforço diário daquela família tão simples, fazendo-nos sentir as suas dificuldades e sentimentos e querer intervir e ajudá-los - a título exemplificativo, quando remam ou quando carregam os baldes de água, certamente muito pesados, tentando equilibrá-los com uma vara nos ombros. A rotina está sempre presente, excepto quando a família vai passear à cidade, porque, de resto, até mesmo após a morte de um dos filhos, eles não podem abdicar das horas de trabalho para manterem as suas plantações.
Sem diálogos, é impossível ficar indiferente à banda sonora, chegando a um resultado, de certo modo, melancólico. A música agitada enquanto o pai vai buscar um médico para impedir que o filho morra, faz-nos querer que ele consiga remar mais rápido para que chegue a tempo de o salvar mas, ao mesmo tempo, faz-nos sentir ânsia por saber o que acontecerá.
Reparei que, no funeral do filho,
todos os presentes estavam vestidos de branco, contrariamente ao que é hábito
na nossa cultura (o preto). A mãe sente tal revolta que, enquanto tratava das
plantações com o marido, tomba o balde de água propositadamente e arranca as
plantas ao mesmo tempo que gritava desesperadamente. É nesse momento que se
percebe que ela se sente culpada e sente que deu mais importância à rotina do
que ao próprio filho.
Para concluir, posso afirmar que
alarguei, uma vez mais, a minha cultura, pois nunca tinha visto um filme mudo e
a preto e branco e achei interessante a ligação que ele estabelece com o
espectador, tornando a história totalmente perceptível. Por outro lado, acho
que este filme foi também introspectivo, na medida em que me fez pensar na vida
que tenho, comparativamente à vida daquela família, bem como nas diferenças da
época.
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