Dissecção | Vhils


Alexandre Farto Aaka Vhils, conhecido como Vhils, é um artista português de renome internacional. Citando João Pinharanda, este é um street artist que “trabalha a partir da cidade, sobre a cidade, para a cidade”. Vhils deixa as cidades com personalidade, quase como se escavasse a sua poesia nas paredes. São incríveis as marcas que deixa e a forma como as grandes pessoas gravadas nas enormes paredes degradadas comunicam com as pequenas pessoas que passam na rua. Ele carrega os edifícios de memórias do passado e da ansiedade do futuro, que tanto caracteriza a vida citadina. A sua obra é sinónimo de construção e movimento. Para mim é, sem dúvida, uma inspiração, não só pelos diferentes meios em que actua, mas também pela variedade dos materiais que usa.

Por achar que o resultado final da sua intervenção surpreende sempre, não pude deixar de ir ver a sua exposição que esteve no Museu da Electricidade de 5 de Julho a 5 de Outubro, "Dissecção". Fui no último dia. Estava uma fila muito grande, mas achei que iria valer a pena.

Escuro. Muito escuro. De repente, umas luzes: caras, pessoas. Pessoas representadas nas paredes através dos contrastes luz/escuro e cor/preto. Achei curioso, porque não conhecia este lado do Vhils. De seguida, subi um andaime para ver uma obra que apenas dava para perceber vista a uns metros de altura. Era de esferovite: espectacular. “Mas como conseguiu ele fazer isto se é tão grande e só se vê a uns metros de altura? Espectacular”, pensei outra vez. O resto da exposição baseava-se em obras mais conhecidas, desde fotografias das intervenções feitas por ele em várias cidades do mundo até caras que surgiam em bocados de revista, jornal e cartazes.

Particularmente, a obra que mais me interessou foi, provavelmente, a mais rápida, e, diria eu, a mais eficaz de todas as da exposição. Era a palavra “restituir” que surgia numa parede. Um guia, por me ver tão interessada, esclareceu-me: Vhils, um dia antes da exposição abrir, achou que aquela parede estava demasiado branca e lisa então decidiu personalizá-la, ao parti-la e escavá-la com esta palavra - muito bem escolhida.

Para terminar, uma carruagem de metro desmontada totalmente pintada de branco como se transportasse a cidade para a sua exposição. Nada melhor do que uma carruagem metro como metáfora ao movimento da vida urbana, a ansiedade, a rotina.


Valeu a pena a fila de espera. Uma exposição pequena mas carregada da singularidade deste artista, que eu tanto aprecio.

Fotografias por Sofia Pêga

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