O Sol do Marmeleiro
A
força da Natureza. Às vezes chove, outras vezes está Sol. Numa hora do dia o
Sol está baixo, noutra hora do dia o Sol está alto. Os frutos nascem numa
árvore, amadurecem, caiem e apodrecem. Assim é a Natureza.
Era
um homem que não viu todas estas alterações naturais, que acontecem ao longo do
tempo, como obstáculos. Ele só queria pintar. Pintar um marmeleiro. Observar.
Viver com aquele marmaleiro, senti-lo e sentir como ele. Perceber como ele se
alterava ao longo do tempo.
A
sua palete cheia de tinta e cores era também sinal do passar do tempo. E era
essa palete e as tintas a ela agarradas que ele tinha usado e usava para pintar
o seu modelo.
Uma
tentativa de o pintar. Porque, na verdade, não resultou. O tempo atacava
constantemente a sua obra. Ou a chuva, ou o vento, ou os marmelos que caiam e
ficavam podres no Inverno. Mesmo protegido por um abrigo, a Natureza afectava a
sua obra sem saber.
É
interessante assistir à ajuda que ele pede a quem o rodeia. No entanto, foi o silêncio
quase constante, que me fez estar atenta aos pormenores visuais, ao verde que
passava a amarelo e à forma meio oval do fruto, às marcas de tinta branca que
Antonio, o pintor, deixava nos marmelos.
Está
muito presente a noção de processo vagaroso, de método, de querer chegar à
perfeição e ser o máximo fiel possível na representação da árvore que estava
plantava no seu quintal. A atenção e dedicação de Antonio são, sem dúvida, um
exemplo para qualquer artista. A forma como ele quer conhecer uma árvore que
estava plantada na sua própria casa, como se tivesse reparado nela pela
primeira vez.
Mais
do que a produção de uma obra de arte, é um estudo aprofundado deste frágil
marmeleiro.
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