"Back to skool" | Conversa com os alunos de 3º ano de Design de Comunicação
“Tudo está em tudo” foi a frase-base (título de um texto) que nos levou a mais um desafio.
“Back to skool”, de volta à escola. Nas minhas mãos passaram, penso eu,
mais de 40 cartões de visita de tamanho a5. Uns simples, outros mais confusos,
uns a preto e branco, outros a cores, uns com frases em inglês, outros com
frases em português, uns com papel com textura rugosa, outros com papel
lisinho. Todos muito diferentes. Apontei os cinco que gostei mais. Na selecção,
não fiquei com nenhum dos autores dos cartões que escolhi. Fiquei com outro
aluno, da turma de 3º ano do curso de Design de Comunicação. Guilherme, recordo-me.
Apresentei-me. Com uma vergonha miudinha, lá começou a conversa. Estava
curiosa, talvez por saber que um dia, quem sabe, estaria no lugar dele. “Fui
para este curso porque, de todos os que vi, achei que era o mais abrangente e o
que mais se relacionava com o que realmente gosto: fotografia”, disse eu; “Este
curso é muito mais abrangente do que o que tu neste momento podes pensar”,
respondeu-me.
Tinha ele acabado de chegar a Belas Artes, há três anos atrás e (em vez
de ter de explorar uma laranja) tinha de conhecer Lisboa, Alfama. Era de Vila
Real e o seu primeiro amigo na cidade alfacinha foi um tasqueiro de Alfama que
o ajudou com a pesquisa e o projecto. Interessante.
À minha frente colocou um pequeno livro, recheado de fotografias a preto
e branco. “Agora tens de inventar um enunciado cujo projecto final fosse cada
uma destas fotografias”. Pensei. Pensei. E pensei. Na verdade, tinha receio de não
acertar no verdadeiro enunciado das fotografias, exactamente por ter 100% de
certezas que iria falhar. Não importou. “Criar uma fotografia simplificada de
uma faca. Inventar um código e pedir a um amigo que o oiça e decifre através
desta máquina. Marcar zonas para reconstrução de um espaço degradado. Fazer um
livro com fotografias, género fotojornalismo”, foram os meus enunciados.
Senti-me um bocadinho parvinha, sabia que não tinha acertado em nenhum. Ele,
por outro lado, achou curioso.
De facto, os meus palpites estavam todos errados. O percurso do
Guilherme no curso, até à nossa conversa, embarcava projectos inimagináveis.
Eram eles, fazendo uma correspondência com as minhas tentativas, respectivamente:
uma fotografia de um candeeiro no Cais do Sodré, parte de um trabalho de
Fotografia; um meio de comunicação criado para os comerciantes do Centro
Comercial Babilónia, na Amadora; marcas na faculdade de um crime inventado pelo
grupo; e uma recolha de partes de cacetes encontradas no lixo.
De repente mudei, de certa forma, a maneira como via o curso. Afinal, o
Design de Comunicação está relacionado com tudo. Serei uma melhor designer se
falar com muita gente diferente, se ler muito, escrever muito, se vir muitos
filmes, se for para a rua observar quais os prédios que gosto e quais os que
não gosto, se for a um restaurante para perceber qual é para mim o
melhor prato ou até mesmo se tentar conhecer uma laranja.
Esta conversa foi, portanto, para além de informativa, uma conversa que
me fez ficar mais aberta a novos projectos, novas experiências e à vontade de
arriscar mais. Errar para aprender. Ouvir para aprender. Criticar construtivamente
para aprender. Aprender. Porque “Tudo está em tudo”.
Fotografias por Guilherme Sousa
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