Olá, o meu nome é Laranja


Fase 1 - DESCOBRIR E DESCREVER A LARANJA
PROVA DE CONTACTO #1: tatear/cheirar/saborear



Fui surpreendida por um conjunto de objectos em cima da mesa: uma faca, um prato de plástico, um guardanapo e uma fita para o cabelo.



Colocámos a fita na cabeça, de modo a ficarmos com os olhos vendados. Em cima do meu prato, um objecto. “Namorem com ele”. O desafio era que, através da exploração do cheiro e sabor e com o uso do tacto e da audição, percebêssemos de que objecto se tratava e o pudéssemos conhecer melhor.


Ouvi o barulho do objecto a ser posto no prato. Sólido, relativamente grande e pesado. Comecei a mexer nele e conclui que era uma laranja devido à sua textura - macia com pequenas concavidades - à sua rigidez externa, ao cheiro cítrico inconfundível e à sua forma esférica imperfeita. Senti o talo, áspero e facilmente deformável.



Destapei os olhos e pensei “Estava certa!”. Decidi de imediato que teria de pegar na faca para saber como seria a laranja por dentro. Dividi-a em duas partes, com espírito de descoberta, como se fosse uma criança que estava a mexer numa laranja e a ver tal fruto pela primeira vez. A casca tinha uma espessura com cerca de 3mm, branca por dentro e cor-de-laranja por fora (embora, em algumas zonas, mais amarelada) e era tão brilhante que parecia ter sido vidrada ou envernizada.
  
O cheiro começou a sentir-se cada vez mais com a libertação de repuxos de sumo, provocados pelo aperto da fruta. Rapidamente o sumo começou a escorrer-me pelas mãos, que ficaram peganhentas por ser um sumo doce, mas eu não me importei, só queria conhecer aquilo que era uma novidade para mim. Parti-a em pedaços mais pequenos e provei. Saboreei atentamente, ainda com mais atenção do que observei ou cheirei ou tacteei. Três trincas por gomo. Lembrei-me de uma pessoa que adora laranjas e senti que, naquele momento, gostei muito mais deste fruto do que essa pessoa alguma vez gostou. Talvez porque nunca tenha realmente conhecido uma laranja; e eu estava a conhecer. Era doce, mas não tanto quanto estava a espera - provavelmente porque tinha elevado as espectativas por parecer tão apetecível. No centro da laranja, havia um conjunto de quatro gomos pequenos, provei-os também mas esses então deixavam mesmo muito a desejar porque nem eram tão doces quanto os grandes. Mas não deixou de ser apaixonante. Para terminar, desfiei uma parte da laranja para perceber a espessura da pele dos gomos. Era muito fina e delicada, ligada por uma espécie de “veias” brancas.



Finalmente percebera o que era uma laranja, no mais puro dos sentidos. Tinha vontade de falar com ela e tratá-la por “tu” - a “Laranja”, com “L” maiúsculo. E eu estava tão entusiasmada em conhecê-la e ao mesmo tempo registar tudo o que ela me tinha dito, que sujava a caneta com o seu sumo e pingava a folha com o seu doce sabor.


No fim, o prato ficou sujo e a Laranja completamente desfeita e nada apetecível, ao contrário do seu aspecto inicial.

Fotografias por Sofia Pêga

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