Im Keller


Im Keller, In the Basement, Na Cave. Esteve em exibição dia 27 de Abril, no Festival Indie em Lisboa e, depois de ler um artigo no Público sobre este filme e ter-me sido recomendado, não pude deixar de ir ver. Um filme que é fruto da árdua pesquisa de Ulrich Seidl pelas caves da Áustria. Não conta apenas uma história mas várias. Nem há fim nessas histórias, sabe-se que continuam até hoje. Das várias histórias abordadas vou realçar as que mais me marcaram.

Começando por uma mulher que se fecha na cave a cuidar de bebés de plástico, que parecem reais, e "dormem" em caixas de cartão. A dedicação dela para com os bonecos é arrepiante. Parecia que ela é que lhes dava vida, levava-os às partes da casa com onde o Sol incidia e dizia-lhes os sítios onde o "papá" costumava estar.

Em segundo lugar, o trompetista nazi e os políticos locais de um partido popular que se reuniam na cave para beber e conversa, em frente a um retrato de Hitler, não foi algo que me tenha surpreendido, porque não passava de um grupo que se reunia para falar de política - ainda que defensores de ideais nazistas -, tal como acontece em todos os locais do mundo. O que me impressionou foi ler, antes de ver o filme, que este grupo de políticos, após a estreia do filme, se tiveram de demitir devido ao culto nazi que era desconhecido por todos. 

Segue-se a mulher que "dominava" o marido, tratando-o como um cão ou, como popularmente se diz, "abaixo de cão". Foi a que mais me chocou. Mas talvez aquela que mais me tenha prendido ao filme, por toda a indignação/raiva que senti por haver pessoas assim. Desde obrigá-lo a lamber o tampo da sanita e a banheira, a obrigá-lo a ser o seu "papel higiénico" ao limpá-la depois de fazer as necessidades, até mesmo ao facto dele andar sempre de gatas e com uma coleira. Mas o pior era o que se passava na cave e não em casa. Era lá que, segundo ela, ela era mais dominante. Para ela, ele era o seu escravo e tudo dele pertencia-lhe. Fazia coisas como pendurar-lhe os testículos ou enfiar-lhe objectos com quase 10 cm de diâmetro no anús. Há cenas mais explícitas que outras, mas mesmo aquelas em que apenas se ouvem os gemidos de dor do homem fazem muita confusão, pois imaginamos tudo mesmo sem estar a ver. Dá vontade de tirá-lo de lá. Mas será que ele lá está porque quer? Que parvo. Tudo me vinha à cabeça.

Ainda neste ambiente de sadomasoquismo, surge uma mulher artisticamente vestida de cordas grossas, que não tapavam as partes mais intimas do seu corpo. Apenas ela, com uma parede no fundo, conta para a câmara que deixou o marido que lhe batia e aconselha todas as mulheres a não ficarem com homens violentos. Este monólogo é intercalado com imagens dela curvada sobre uma mesa, de pernas abertas, com um homem a chicoteá-la no rabo, que depois afirma gostar e diz que a leva a um estado de prazer pleno. Estranho. Então mas gosta ou não gosta? Os risos surgem quando diz que trabalha na Cáritas para ajudar mulheres vítimas de violência doméstica.

Para concluir, este filme pertende, sem dúvida, criar polémica. Obviamente, não é isto que acontece em todas as caves da Áustria, mas acontece em muito mais do que estas e não só na Áustria mas em todo o mundo, em caves e não só. A forma como aborda a sexualidade, no seu lado mais agressivo e repugnante - do meu ponto de vista - é para nos manter agarrados ao filme e pensar nele nos dias a seguir, relacionando-o com a nossa vida, na medida em que todos nós temos vícios, uns mais bizarros que outros, e deviamos reflectir sobre isso, sobre a sociedade. Temos de pensar sobre as "verdades desagradáveis" que nos rodeiam e é a isso que Seidl nos leva.

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