Túnel de Memórias | Em construção #1


Durante a nossa aproximação ao Bairro da Liberdade, apercebemo-nos que existem várias vivências das quais os seus habitantes sentem falta, saudade. Saudade foi uma palavra que ouvimos várias vezes. Saudades da feira, saudades de "como o Bairro era antes"... Mas como era o Bairro antes?

Há uns meses, dedicámo-nos a pesquisar fotografias antigas e fizemos comparações para perceber algumas das mudanças que tinham acontecido no bairro. Apercebemo-nos que agora tem muito menos habitantes, cerca de metade; que as Escadinhas da Liberdade quase já não são usadas; que agora existem prédios onde antes existiam campos ou pequenas casinhas; entre muitas outras coisas.

Nós queremos que as pessoas recordem essas memórias. Queremos reavivar o passado, reavivar as pessoas! "Fim à inércia" gritámos nós. Temos vindo a tomar consciência que a inércia se tem apoderado cada vez mais do Bairro. A forma como os habitantes do Bairro, vivendo nas condições que vivem - sem água e com habitações pouco estáveis, por exemplo - dizem que querem continuar a viver assim porque sempre assim viveram é algo que nos incomoda.

Inspirados na persistência e dedicação do Senhor José João e na sua horta, queremos combater tudo isto. Queremos trazer as pessoas para a rua, inquietá-las por dentro e fazê-las encarar o passado, que tanto recordam com carinho, para perceberem que há algo a fazer no presente. E como?

Fazendo uma "feira/venda de garagem na qual nada está para venda". Nada está para venda visto que se trata de objectos simbólicos das memórias dos habitantes daquele bairro. Obviamente, é notável a ligação directa com a garagem do Senhor Armindo. Este respigador recolhe, rouba e guarda na garagem objectos do bairro e, por sua vez, a história desses objectos, as lembranças que estes conservam dos seus donos. Então, vamos abrir a garagem! Mas nem tudo está na garagem, precisamos de mais, temos de ir mais ao fundo... Vamos também em busca do que não está lá, mas podia estar, e é escondido por detrás das portas e janelas do bairro. Vamos expôr as memórias das pessoas, vamos fazer com que saiam de casa e entrem no "túnel" do passado, que representa a garagem "infinita" e sugadora do Senhor Armindo.

Este "túnel de memórias", não tendo necessariamente que ser um túnel, encontra numa rua do bairro o espaço ideal para que seja vivido e activado pelas pessoas visto que só faz sentido a sua existência com elas mas que também as active. Neste "túnel", à medida que os bairristas o percorrem, vasculham o passado, revivem cada canto e esquina - que outrora já foram vividos de outras maneiras - observam objectos de outro tempo, fotografias antigas do bairro e tudo o que possa ser uma recordação do "antigo" Bairro da Liberdade. Utilizaremos a rua como um espaço expositivo e atractivo para a curiosidade. Uma rua porque é um local incontornável na passagem dos habitantes. Uma cama, uma mesa de cabeceira, um brinquedo, uma panela, uma planta, qualquer coisa poderá lá estar.

Numa fase inicial, procuramos perceber melhor do que é que os habitantes realmente sentem falta, para além das alterações que nós enquanto grupo nos apercebemos que aconteceram. Queremos saber o que é a saudade no Bairro da Liberdade. Vamos abordar várias pessoas, para além das do habitual - Senhor Armido, e Senhor José João - e levá-las a tirar as memórias do baú. Encontraremos lugares, objectos, cheiros, pessoas, momentos... 

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